
Fitoterapia Canábica - o que é, significado e definição
Uso terapêutico de derivados da cannabis na medicina integrativa e na atenção à saúde, com crescente relevância no setor farmacêutico
A fitoterapia canábica vem se consolidando como uma abordagem terapêutica complementar no tratamento de diversas condições clínicas, especialmente aquelas com difícil controle por medicamentos convencionais. Com base no uso de princípios ativos extraídos da planta Cannabis sativa, como o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC), essa prática busca integrar conhecimentos da medicina tradicional e da farmacologia moderna.
Apesar de suas origens milenares em culturas tradicionais, a fitoterapia canábica passou por um resgate científico nas últimas décadas, impulsionado por evidências clínicas que sustentam seus efeitos em epilepsias refratárias, dores crônicas, transtornos psiquiátricos e doenças inflamatórias. No Brasil, a regulamentação recente pela Anvisa e o crescente interesse da indústria farmacêutica colocam a cannabis medicinal como um novo eixo estratégico na inovação em saúde.
No contexto farmacêutico, a fitoterapia canábica envolve não apenas o desenvolvimento de formulações à base de cannabis, mas também o controle de qualidade, segurança, farmacovigilância e capacitação de profissionais. Essa abordagem já movimenta um mercado em expansão e traz novos desafios regulatórios, científicos e éticos para o setor.
O que é fitoterapia canábica?
Fitoterapia canábica é o uso de extratos, óleos ou outras formulações derivadas da Cannabis sativa com fins terapêuticos. Essa prática integra a fitoterapia — ciência que estuda o uso medicinal das plantas — com os avanços da canabinologia, área dedicada ao estudo dos canabinoides e do sistema endocanabinoide humano.
A terapia com cannabis pode envolver produtos com diferentes concentrações de canabinoides, como o CBD (não psicoativo) e o THC (psicoativo), além de outros compostos vegetais, como terpenos e flavonoides, que podem exercer efeito sinérgico conhecido como “efeito entourage”.
Mecanismo de ação dos canabinoides
Os canabinoides presentes na planta atuam principalmente sobre o sistema endocanabinoide, um complexo sistema de sinalização celular envolvido na regulação de funções como:
- Dor e inflamação
- Humor e ansiedade
- Apetite e digestão
- Sono
- Imunidade
- Neuroproteção
Os dois principais receptores canabinoides são:
Receptor | Localização predominante | Função principal |
---|---|---|
CB1 | Sistema nervoso central | Modulação da dor, humor, memória e sono |
CB2 | Sistema imunológico e periférico | Regulação inflamatória e imune |
O CBD tem baixa afinidade com esses receptores, mas modula sua ação indiretamente. Já o THC se liga diretamente ao CB1, promovendo efeitos psicoativos e analgésicos.
Aplicações terapêuticas
As evidências clínicas mais robustas sobre o uso da cannabis medicinal se concentram nas seguintes condições:
- Epilepsia refratária (como síndrome de Dravet ou Lennox-Gastaut)
- Dor crônica neuropática
- Espasticidade em esclerose múltipla
- Náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia
- Transtornos de ansiedade e insônia
- Autismo (em estudos)
- Doenças inflamatórias intestinais
A escolha do tipo de extrato (CBD isolado, full spectrum, ou com proporções variadas de THC:CBD) depende do perfil clínico do paciente, da condição tratada e da tolerância aos efeitos adversos.
Papel na indústria farmacêutica
A fitoterapia canábica tem impulsionado uma nova fronteira na indústria farmacêutica brasileira e internacional. Empresas buscam registrar produtos à base de cannabis junto à Anvisa ou operam no mercado de importação autorizada, além de atuar em:
- Desenvolvimento de extratos padronizados com controle de canabinoides
- Pesquisa clínica e farmacológica
- Capacitação de profissionais de saúde
- Logística de distribuição e rastreabilidade
O setor farmacêutico também participa ativamente de discussões sobre regulamentação, acesso e inclusão da cannabis medicinal nas políticas públicas.
Riscos, efeitos adversos e controvérsias
Embora geralmente bem tolerada, a fitoterapia canábica não é isenta de riscos. Os efeitos adversos mais comuns variam conforme o composto predominante:
CBD (não psicoativo):
- Sonolência
- Diarreia
- Alterações hepáticas (em doses elevadas)
THC (psicoativo):
- Tontura, euforia ou ansiedade
- Déficits cognitivos temporários
- Risco de dependência em uso prolongado
- Contraindicado em pessoas com histórico de psicose
Controvérsias principais:
- Uso pediátrico e em gestantes
- Falta de padronização entre produtos artesanais
- Dificuldades de acesso via SUS
- Divergências entre legislação médica e criminal
Situação regulatória no Brasil
A cannabis medicinal é regulada no Brasil pela Anvisa desde 2015. A principal norma vigente é a RDC nº 660/2022, que substitui e atualiza a RDC nº 327/2019. Ela permite:
- Importação de produtos com prescrição médica
- Comercialização em farmácias, desde que o produto seja aprovado pela Anvisa
- Manipulação em farmácias de manipulação, sob prescrição e critérios técnicos
O cultivo da planta para fins medicinais ainda não é amplamente permitido, salvo por meio de habeas corpus individuais ou autorização judicial para associações.
Perguntas frequentes
Sim, desde que seja realizada com prescrição médica e produtos autorizados pela Anvisa, seja via importação ou em farmácias.
Sim, há produtos autorizados pela Anvisa disponíveis em farmácias mediante receita do tipo B (azul).
Médicos de qualquer especialidade, desde que estejam devidamente registrados no CRM e prescrevam com base em avaliação clínica.