
Cannabis medicinal: entenda o que é, como funciona e seus benefícios terapêuticos
Entenda o que é a cannabis medicinal, como ela age no corpo e conheça seus principais benefícios terapêuticos para diversas doenças.
O uso da cannabis medicinal tem ganhado cada vez mais espaço no debate sobre saúde e bem-estar em diversos países, inclusive no Brasil. Antes vista com preconceito e cercada de tabus, a planta Cannabis sativa hoje é objeto de estudo em inúmeras pesquisas científicas que comprovam seu potencial terapêutico para uma ampla variedade de condições clínicas.
Neste artigo, você vai entender o que é a cannabis medicinal, como ela atua no organismo humano e quais são seus principais benefícios terapêuticos, além de conhecer as regulamentações que permitem seu uso controlado no Brasil.
O que é cannabis medicinal?
A cannabis medicinal refere-se ao uso terapêutico dos compostos ativos da planta Cannabis sativa — especialmente o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC) — para tratar ou aliviar sintomas de doenças físicas e mentais. Ao contrário do uso recreativo, que tem como foco o efeito psicoativo da planta, o uso medicinal é cuidadosamente monitorado, com dosagens e formulações específicas, prescritas por profissionais de saúde habilitados.
O CBD é um dos componentes mais estudados da planta. Ele não provoca efeitos psicoativos e tem se mostrado eficaz no tratamento de condições como epilepsia, ansiedade, insônia, dores crônicas, inflamações e distúrbios neurológicos. Já o THC, embora psicoativo, também apresenta propriedades terapêuticas importantes, especialmente no alívio da dor, náuseas e espasmos musculares, quando utilizado em doses controladas.
Como a cannabis medicinal atua no organismo?
O corpo humano possui um sistema biológico chamado sistema endocanabinoide, descoberto na década de 1990. Esse sistema é composto por receptores (CB1 e CB2), endocanabinoides (produzidos naturalmente pelo corpo) e enzimas que regulam sua atividade. Ele atua na regulação de funções como sono, humor, apetite, dor, inflamação, memória e imunidade.
Os fitocanabinoides presentes na planta de cannabis, como o CBD e o THC, interagem com esse sistema, promovendo efeitos reguladores e terapêuticos. Essa interação ajuda a restaurar o equilíbrio (homeostase) em situações em que o organismo está enfrentando desequilíbrios relacionados a doenças ou distúrbios fisiológicos.
Por isso, o uso medicinal da cannabis tem mostrado resultados promissores em diferentes áreas da medicina, tanto em adultos quanto em crianças, desde que com acompanhamento profissional.
Quais são os principais benefícios terapêuticos da cannabis?
Os benefícios da cannabis medicinal são amplos e vêm sendo comprovados por estudos científicos em todo o mundo. Entre as principais indicações estão:
- Epilepsia refratária: o canabidiol tem se mostrado eficaz na redução das crises convulsivas em pacientes que não respondem a tratamentos convencionais.
- Dores crônicas e neuropáticas: o THC e o CBD atuam como analgésicos naturais, sendo uma alternativa a opioides.
- Transtornos de ansiedade e depressão: o CBD possui ação ansiolítica, favorecendo o equilíbrio emocional sem causar sedação excessiva.
- Insônia: o uso noturno de CBD contribui para melhorar a qualidade do sono e reduzir o tempo necessário para adormecer.
- Doenças neurodegenerativas: pacientes com Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla têm apresentado melhora em sintomas motores e cognitivos com o uso controlado de cannabis.
- Náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia: o THC é utilizado para aliviar esses efeitos colaterais em pacientes oncológicos.
- Inflamações e doenças autoimunes: o CBD tem propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras que ajudam a controlar processos inflamatórios crônicos.
Essas são apenas algumas das aplicações já reconhecidas, mas os estudos continuam em expansão, incluindo áreas como autismo, fibromialgia, enxaqueca, endometriose e até mesmo câncer, onde a cannabis pode atuar como coadjuvante no manejo dos sintomas e na qualidade de vida.
É seguro utilizar cannabis medicinal?
Quando prescrita e acompanhada por um profissional de saúde, a cannabis medicinal é considerada segura e com baixos riscos de efeitos colaterais. Os efeitos mais comuns, quando ocorrem, incluem sonolência, boca seca, tontura, alterações no apetite ou leve desconforto gastrointestinal — geralmente reversíveis com ajustes de dose.
No caso do CBD, os riscos são ainda menores, já que não há efeitos psicoativos nem potencial de dependência. O THC, por ser um composto com ação no sistema nervoso central, exige maior controle de dose e atenção, especialmente em pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos.
Por isso, é fundamental que o tratamento com cannabis seja sempre realizado com acompanhamento médico, com produtos confiáveis e devidamente autorizados pela Anvisa.
Como funciona a regulamentação no Brasil?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) permite, desde 2015, a importação de produtos à base de cannabis para uso medicinal, mediante prescrição médica e autorização prévia. Em 2019, a agência publicou a Resolução RDC 327/2019, que regulamenta a comercialização de produtos derivados de cannabis em farmácias brasileiras, desde que cumpram exigências de qualidade, controle e rotulagem.
Para iniciar o tratamento, o paciente precisa passar por uma consulta com um médico prescritor, que avaliará o caso e emitirá a receita. Com ela, é possível solicitar autorização à Anvisa para importação ou adquirir os produtos diretamente em farmácias autorizadas, conforme disponibilidade.
O avanço das regulamentações tem ampliado o acesso à cannabis medicinal no Brasil, embora ainda haja desafios relacionados ao custo dos produtos, à falta de informação adequada e à formação de profissionais especializados.
A cannabis medicinal representa uma verdadeira revolução no campo da saúde, oferecendo alternativas eficazes e seguras para o tratamento de diversas condições clínicas. Com base em evidências científicas e regulamentações progressivas, o uso terapêutico da planta Cannabis sativa deixa de ser um tabu e passa a ocupar seu lugar como uma ferramenta legítima no cuidado à saúde.
Com o avanço das pesquisas, o crescimento da oferta de produtos de qualidade e a maior formação de profissionais da saúde, o futuro da cannabis medicinal no Brasil é promissor. Mais do que uma tendência, trata-se de um direito à saúde integrativa, humanizada e baseada na ciência.
- Alzheimer
- Ansiedade
- ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
- Apetite
- Cannabis sativa
- CB1
- CB2
- CBD (canabidiol)
- Depressão
- Distúrbios neurológicos
- Doença de Parkinson
- Doenças neurodegenerativas
- Epilepsia refratária
- Fibromialgia
- Humor
- Imunidade
- Inflamações
- Insônia e distúrbios do sono
- Memória
- Sistema endocanabinoide
- Sono
- THC (tetrahidrocanabinol)